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  • Foto do escritorJoice Viana

"13 Reasons Why": Assistir ou não?

Atualizado: 12 de out. de 2020

Dia 5 de junho estreia a última temporada na Netflix, relembre as polêmicas e entre na discussão comigo: será que quem sofre com depressão e outras doenças mentais deve assistir? Qual seria a responsabilidade dos produtores?


ATENÇÃO! Contém SPOILERS...



Nesta sexta-feira, 5, estreia a temporada final de “13 Reasons Why” na Netflix. E o que esperar dessa 4ª temporada? Depois da morte de Monty na cadeia – personagem responsável por cenas fortes de assédio sexual contra Tyler – os principais personagens se veem de novo sob investigação, pois, como sabemos (quem viu, no caso), ele não foi o responsável pela morte do Bryce e sim um dos amigos da turma formada por Clay, Jessica, Ani, Alex, Tony e companhia.


Essa reviravolta faz a gente pensar.... Será que é justo mudar fatos para que outra pessoa seja acusada para proteger um amigo seu? Mesmo que Monty tenha sido sempre um personagem detestável, na minha opinião, é justo fazer ele pagar por um crime que não cometeu e morrer injustamente, sem ter a oportunidade de se descobrir como homossexual e melhorar como pessoa?


AS POLÊMICAS EM VOLTA DA SÉRIE


Voltemos às polêmicas com relação a produção da série que teve sua estreia em 2017. Desde o início o público sabia que se tratava de uma série que trataria de uma história de suicídio, fictícia, em que Hannah Baker grava 13 fitas para os “culpados” de sua decisão de tirar a sua própria vida. Outra informação que era de conhecimento do público é que o cenário seria uma escola de ensino médio dos EUA, país que possui casos trágicos de massacres provocados por jovens que sofreram Bullying no ambiente escolar, apesar de o fato não justificar os meios.


É importante lembrar também que a produção deixa claro em sua classificação que se trata de uma série com cenas de sexo, violência e etc., chamando atenção para quem está assistindo. Porém, não deixa claro que aparecerão cenas fortes como acontece no último capítulo da primeira temporada, em que é mostrado todo o processo de tentativa de suicídio da personagem principal, desde a compra da lâmina até mesmo o corte de seu pulso dentro da banheira de casa. Confesso que eu também fiquei extremamente agoniada com aquela cena, mas isso foi bem antes da minha depressão e não me afetou de forma negativa.


POLÊMICA Nº 1: ROMANTIZAÇÃO DO SUICÍDIO


Muitos especialistas criticaram os produtores da série justamente por trazer o tema do suicídio de forma romantizada, ou seja, mostrando que ela só fez isso porque algumas pessoas de seu convívio contribuíram para que ela chegasse ao fundo do poço, sendo que a OMS (Organização Mundial de Saúde) aponta a importância de não glorificar o ato e, também, de não atribuir culpados.


POLÊMICA Nº 2: CORTE DA CENA DE SUICÍDIO


Hoje, quem for assistir ao último capítulo da primeira temporada de “13 Reasons Why” pela primeira vez não se deparará com a cena de suicídio cometido por Hannah. Depois de dois anos da estreia, os produtores decidiram retirar essa parte, inclusive o momento em que a personagem pega uma lâmina na farmácia de seus pais, objeto que foi utilizado para cortar seus pulsos.


“Eu ainda tenho transtorno de estresse pós-traumático porque fui eu que a encontrei", comenta Joyce Deithorn sobre o suicídio de sua filha de 19 anos.

Depois de diversas críticas de profissionais da área de psicologia e psiquiatria, que pediam para que as imagens fossem retiradas devido aos riscos de influenciar o suicídio, além de espectadores que ficaram chocados, os produtores acharam mais prudente editar e cortar alguns trechos. Segundo o psiquiatra brasileiro, Luís Fernando Tófoli, o principal erro da série foi, “de longe”, mostrar o suicídio de Hannah. “A cena, que acontece no episódio final, é absolutamente desnecessária na narrativa e claramente contrária ao que apregoam os manuais que discutem prevenção de suicídio e mídia”, publicou ele em sua página pessoal no Facebook. Não informar detalhes específicos do método utilizado pelo suicida é uma das recomendações da OMS.


Tófoli lembra também do “efeito Werther”, chamado assim por conta de um livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, escrito por Goethe no século 18, que gerou uma série de suicídios de maneira semelhante à do protagonista da obra. Fato que também aconteceu, infelizmente, com relação à série, e inspirou Emily Bragg, de 19 anos, a repetir a atitude da personagem principal. Quem sofreu com isso foi sua mãe, Joyce Deithorn, “eu ainda tenho transtorno de estresse pós-traumático porque fui eu que a encontrei”, disse ela em entrevista para o BuzzFeed News. Ela acredita que a atitude de cortar a cena veio “tarde demais”.


POLÊMICA Nº 3: TEMAS COMPLEXOS COM FALTA DE PROFUNDIDADE

Algumas matérias que eu pesquisei apontam que alguns temas complexos não foram retratados de uma forma mais profunda, o que gerou essa polêmica. Por exemplo, alguns veículos disseram que a série não deu chance de que a personagem buscasse por ajuda especializada, ou seja, não mostrou essa alternativa.


Outro ponto de crítica foi a sexualidade de Monty, que não teve mais desdobramentos e a série resolver “matar” o assunto junto com o personagem e deixar por isso mesmo. A quase tragédia que seria provocada por Tyler na festa do colégio também não teve o envolvimento dos pais dos alunos, o que gerou o questionamento de como apenas adolescentes seriam capazes de cuidar desses assuntos sozinhos.


CASOS DE SUICÍDIO ASSOCIADOS À SÉRIE. SERÁ?


Estudo publicado na Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry associa o aumento de 28,9% no índice de suicídios de crianças e adolescentes, em abril de 2017, à série “13 Reasons Why”, que estreou um mês antes nos EUA – o suicídio é a terceira causa de mortes na faixa etária de 10 a 24 anos no país. Já no Brasil, os chamados para o CVV (Centro de Valorização da Vida) dobraram depois da estreia da série.


Outro estudo realizado pela Universidade da Pensilvânia concluiu que estudantes que assistiram toda a segunda temporada pensavam menos em se ferir ou se matar, fazendo com que os cientistas concluíssem que isso se deu por conta da forma como o assunto era tratado abertamente pelos personagens. A Netflix também encomendou uma pesquisa, realizada pela Northwestern University, para verificar como os pais e adolescentes de quatro regiões ao redor do mundo reagiram à série. O resultado foi que de 63% a 79% dos adolescentes se sentiram beneficiados pelo que assistiram.


VAMOS DISCUTIR SOBRE ISSO?

Comecei essa postagem trazendo dados relevantes que saíram na mídia desde quando a série foi ao ar em 2017, agora é o momento de eu dar a minha opinião como uma pessoa que sofreu com a depressão e o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e, além disso, tentou suicídio por duas vezes e hoje está aqui tentando ajudar as pessoas com o mesmo problema.


Acredito que toda crítica é válida, justamente para gerar discussão sobre um assunto que ainda é tabu e que, muitas vezes, a sociedade prefere não falar porque se trata de algo muito delicado. Mas eu acho sim que é preciso falar abertamente e foi isso que eu senti da série.


Como toda inovação, as vezes podem passar alguns erros muito graves e foi o que eu acho que aconteceu com “13 Reasons Why” ao mostrar em detalhes como a jovem Hannah se matou. É uma cena muito forte para qualquer pessoa e isso pode realmente ajudar a ter ideias, apesar de que quem pretende se matar vai arranjar qualquer jeito de fazê-lo, mas, por se identificar com a personagem, a repetição do mesmo ato pode ser inevitável, ainda mais com uma pessoa fragilizada, como foi caso comentado acima. Não culparia os produtores pelos suicídios gerados após isso, senão teríamos que culpar todas as produções que retratam a vida de serial killers, de terroristas, de guerras e etc., além disso, estaríamos indo contra uma recomendação da própria OMS, de não achar culpados.


É importante lembrar que todas as produções artísticas têm o objetivo de, além de entreter, também trazer uma mensagem. A série abordou vários temas que fazem parte do dia a dia dos adolescentes e, muitas vezes, os pais não imaginam ou fazem vista grossa como o bullying, assédio sexual, uso de drogas, preconceito, mulheres tratadas como objeto, depressão, suicídio, entre outros. Foram muitos temas, pois o adolescente realmente se depara com muitas situações diariamente e pela falta de maturidade, às vezes, não sabem como agir e não querem pedir a ajuda de seus pais. Será que também não foi pela quantidade de temas que a série decidiu não se aprofundar tanto em todos os assuntos?

Eu mesma me emocionei em uma cena da primeira temporada em que a Hannah foi abusada pelo Bryce, pois me recordei de fatos da minha adolescência que me machucaram muito e eu nunca contei para os meus pais. Nunca fui abusada como ela, mas me senti um lixo depois que soube que um cara com quem eu fiquei falou de mim para outros homens como se eu fosse uma qualquer, contou tudo que fez e não fez comigo na intimidade e insinuou que eu era fácil, já que eu já tinha ficado com o primo dele e com ele também. A dor maior foi porque ele era meu “amigo”, achava eu. Quantas mulheres não passaram por coisas desse tipo na adolescência e guardaram para elas mesmas? Será que não foi isso que a série quis mostrar no caso da Hannah, em que ela não foi atrás de ajuda psicológica e dos seus pais antes de chegar ao fundo do posso?


Sobre a romantização do suicídio, os produtores precisavam ter uma estratégia para chamar a atenção de seu público-alvo, que são principalmente os jovens, e para mim foi nessa romantização que eles se apoiaram, lembrando que a história é fictícia e até mesmo muitos filmes baseados em histórias reais mudam alguns aspectos e situações para gerar mais atenção do público. Na minha opinião, eles não insinuaram que o suicídio de Hannah foi culpa de alguém, mas quiseram mostrar como as atitudes das pessoas podem gerar traumas, por isso é importante ver o lado do outro, ter empatia, será que eu gostaria se fizessem isso comigo?


Para finalizar, volto a questão de que antes de dar o Play a pessoa sabe o que está prestes a assistir, pois existe indicação de faixa etária e questões que podem ser abordadas na produção, além de toda a repercussão que a série teve da mídia. Sabendo que você tem depressão e acredita que alguns assuntos abordados podem te machucar, por que assistir? Não faça isso, principalmente se anda tendo pensamentos suicidas. Pais, sabendo que seu filho (a) está em um momento delicado de saúde mental, não proíba apenas, tenha um diálogo para fazê-lo entender porque assistir seria prejudicial.

(Tradução: Esta série de ficção aborda diversos assuntos difíceis, incluindo depressão e suicídio. Se você ou qualquer pessoa que você conhece precisa de ajuda encontre suporte ou recursos em sua região, entre no site 13reasonswhy.info para maiores informações)


Caso esteja precisando de ajuda fale com seus amigos, sua família, procure a ajuda de especialistas. O CVV (Centro de Valorização da Vida) também pode ser acionado a qualquer momento pelo site ou no telefone 188.

Obs.: Essa matéria conta com a opinião de uma jornalista que tentou suicídio por duas vezes e, portanto, teve contato com essa experiência. Porém, também traz dados coletados através de pesquisa em veículos de comunicação como G1, Uol, BBC, Buzzfeed, entre outros. A intenção não é apenas mostrar o seu ponto de vista, mas gerar um debate sobre o assunto.

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